Chernobyl Fukushima
Acidentes diferentes com as mesmas consequências

O acidente na usina nuclear de Chernobyl, que ocorreu em 26 de abril de 1986, afetou de um ou outro jeito as vidas de milhões de pessoas. Quase 8,4 milhões de moradores da Bielorrússia, Ucrânia e Rússia foram afetados pela radiação. Mais de 400 foram evacuados dos territórios poluídos. Hoje em dia, nas terras onde o nível da radiação é baixo, mas que são oficialmente consideradas contaminadas, vivem cerca de 5 milhões de pessoas. Delas, 1,6 milhão no território da Rússia. Eles estão todos sob assistência médica permanente dos órgãos da saúde pública.

Além das consequências médicas e ecológicas, o acidente de Chernobyl virou causa de muitos processos sociais e sociopsicológicos negativos que permanecem atuais até hoje. Muitos deles são parecidos àqueles que vivem as pessoas evacuadas de zonas afetadas pelo acidente de Fukushima I no Japão.

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Primeiro, é a inquietação que apareceu nos primeiros dias depois do acidente e que não deixa algumas pessoas até hoje. Esse sentimento surgiu porque as pessoas não compreendiam o que acontecia e o que fazer: ficar ou fugir, deixar as crianças brincar na rua ou não, o que se pode comer e o que não. Hoje em dia já se trata de um medo irracional, que não tem fundamento, as vidas destas pessoas já não correm perigo, mas este medo se explica pelas consequências da tragédia vivida.

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Outra consequência que tocou as pessoas foi a desconfiança nas autoridades, funcionários de saúde pública, cientistas e organizações internacionais, inclusive Agência Internacional de Energia Atômica e Organização Mundial da Saúde. Assim foi depois do acidente de Three Mile Island e do de Fukushima. Para evitar pânico entre a população, as autoridades não deram toda a informação do ocorrido. Às vezes as autoridades também não dispunham de informações detalhadas para avaliar rápida e adequadamente a situação.

Vinte anos depois da tragédia de Chernobyl, o ex-presidente da URRS Mikhail Gorbachev reconheceu: "O Governo não ocultava a verdade sobre o acidente em Chernobyl. Ele não a sabia." Comunicados oficiais foram substituídos por fofoca, quer dizer, as pessoas se satisfaziam com boatos. Isso agravou ainda mais a situação e a desconfiança de todos em todos.


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Depois da tragédia de Chernobyl, muitas pessoas foram evacuadas e sentiram o que se costuma chamar de destruição da comunidade. O realojamento rápido, ruptura das relações sociais, mudanças no modo de viver, sentimento de instabilidade, receios ligados à possibilidade de conseguir emprego no novo lugar. Eis os sintomas observados entre as vítimas do acidente de Chernobyl e de Fukushima. Hoje em dia o medo passou, mas a inquietação pelo futuro e saúde das gerações futuras ficou a mesma.

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A inquietação dos pais se transmitiu para os filhos. Mesmo sendo as capacidades das crianças para adaptação mais altas do que as dos adultos, muitos sentiam estresse também. Por exemplo, quando eram discriminadas no novo colégio.

Ales Dostanko, jornalista bielorrusso, relembra os dias depois do acidente em entrevista à Sputnik:

"Tinha 12 anos quando ao nosso acampamento de verão chegaram os filhos dos deslocados dos territórios contaminados. Nem sabíamos exatamente o que era um território contaminado, mas já na época absorvemos a ideia que a radiação é algo medonho. Nos primeiros tempos tentávamos não nos aproximarmos deles e evitávamos conviver. Depois passamos a os chamar de 'ouricinhos de Chernobyl'. Acho que esse apelido continha ao mesmo tempo compaixão e medo de nos contaminarmos com radiação, como se fosse um vírus."
Dados de uma pesquisa realizada pelo Ministério da Educação japonês revelam que as crianças evacuadas da zona em torno de Fukushima enfrentaram situações semelhantes.

Foi o acidente de Fukushima que impulsou a comunidade nuclear internacional para aprovar exigências sem precedentes de segurança nas usinas nucleares. Atualmente, em torno de todas as usinas nucleares russas são criados sistemas automáticos de controle da radiação que permitem a cada um avaliar a situação não apenas perto das usinas, mas também perto das outras empresas do ramo nuclear. Mas a consciência social depois das tragédias de Chernobyl e Fukushima continua sentido medo irracional perante as usinas nucleares. Isso é comum tanto na Rússia quanto no Japão.
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